sábado, 4 de maio de 2019

Saco de dormir

Por Jéssica Cantos


Eu vi um sonho assim:

Eu e minha irmã andamos com bastante pressa em uma rua movimentada para chegar no Posto de Saúde. Ela se sente mal e acredita que se tiver uma consulta e uma medicação o mais rápido possível ficará bem logo.
Chegamos no Posto e há uma certa confusão de pessoas na porta do prédio porque muitos funcionários faltaram e os poucos que ali estão não dão conta de toda a procura. As pessoas seguem discutindo e caminho por entre elas segurando firme a sua mão para chegarmos até a porta. Dentro do prédio nos deparamos com um Enfermeiro, a quem eu peço ajuda muito aflita pois o estado de saúde dela piorou. Muito cansada ela se senta num saco de dormir desses de acampamento que está no chão da sala. Enquanto eu discuto muito com o enfermeiro que não quer atender, ela diz que está ainda mais cansada e treme de frio. Ela se deita no saco de dormir que tinha um grande zíper na frente e a vejo fechá-lo até em cima cobrindo todo seu corpo.
Discuto de novo com o enfermeiro mas ele se nega a fazer qualquer intervenção. Depois de um tempo e muita insistência ele resolve atendê-la.
Enquanto ele prepara a injeção com a medicação eu puxo o zíper do saco descobrindo seu rosto. A sua boca está roxa e a face pálida. Ela não respira mais. A sacudo com força e dou um longo abraço. Num grito desesperado sinto que já é tarde demais.

Então eu abri meus olhos e despertei.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Corre Dor

Por Fabio Dal Molin


Eu vi um sonho assim



Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota prensando um rosto humano para sempre.
George Orwell


O mundo está mergulhado nas entranhas do medo. Em meu sonho o medo é verde e visualizo uma de suas expressões na língua alemã: angst, que quer dizer também angústia. O medo é angústia objetificada. A angústia é o medo encarnado na alma.
Em meu sonho o medo é verde.


 É tempo de eleições para presidente no Brasil e o coração tão durmo como coração tão acelerado que faz o  sonho tremer de medo da repressão que não vem de nenhum governo mas diretamente do coração de todos os humanos que dirigem taxis, empacotam no supermercado e caminham pelas ruas.

Estou no parque Ibirapuera em São Paulo e corro desesperadamente. Do que estou fugindo?  Do medo...
Ao meu redor uma multidão de sombras brota do chão e se materializa no ar e me persegue insistentemente cheia de ódio, cinismo e desesperança.
Saio do meio das árvores para baixo de uma marquise imensa que tem  no parque, como se fosse uma ponte invertida que de repente fica toda verde e de suas laterais surgem paredes estreitas até ela virar um corredor cheio de espectros humanóides se esgueirando pelo chão e pelas paredes. Eu sei que os espectros são o medo, a opressão, a violência corporificados, implacáveis e intangíveis
Eu corro desesperadamente dos espectros, e o paradoxo de fugir com medo paradox
o do medo que corre atrás de mim  mas que já tomou minha alma e devora minhas entranhas;
Uma porta se abre a poucos metros de mim e eu sigo em fuga em direção a ela mas na medida em que avanço o teto vai baixando até que tenho que me arrastar até não conseguir mas respirar.
Eu não consigo chegar na porta.
Eu não consigo mais correr, lutar, amar, falar

Então eu abri meus olhos e despertei.