Por Davi Masi
Eu vi um sonho assim:
Estava
com um folder em mãos, tentando ler. Tinha letras pretas em um papel branco,
somente palavras, as quais não conseguia enxergar, como se eu precisasse de
óculos com grau mais elevado. Olhei para frente. Vi que estava em um cruzamento
na cidade de Rio Grande. O alvorecer da cidade tinha mais vida, movimento,
cores e detalhes nas construções. Havia chovido durante a noite.
Estava
esperando a oportunidade para atravessar a rua. À minha esquerda estava um
amigo da psicologia (neste sonho não se distinguia se éramos psicólogos ou
estudantes de psicologia), ao qual darei o nome de John. Ele fez comentários
sobre o fato de estarmos tentando atravessar a rua, na sinaleira, mas passavam
muitos carros e não respeitavam a vez dos pedestres. Ao olhar para a direita,
vi que lá estavam duas colegas também psicólogas, mas eu não lembrava de nada
sobre elas além da profissão. Elas cochichavam entre si sobre algo, esperando
junto comigo e John para atravessar a rua.
Em todo
o tempo que esperávamos não conversávamos, ocupados demais com a angústia de
tentar atravessar e os carros não deixarem. Esperamos por muito tempo, não sei
precisar quanto. Até que conseguimos atravessar, quando já não passava carro
algum.
Seguimos nosso caminho conversando, sem
as gurias. John me contava sobre uma das psicólogas:
-
Vou começar a fazer terapia com ela, mas
não sei se ela vai dar conta das coisas que eu tenho pra trazer. Por isso ela
disse que também vai me contar as coisas dela. Então na verdade é isso, vai ser
uma troca…
Ele
falava os detalhes dessa proposta de terapia, e eu me indignava por não ver
sentido em chamar isso de terapia. Sendo ele meu amigo há muito tempo, não me
contive e o interrompi:
-
Tu poderias ter esse tipo de relação
comigo, porque eu sou teu amigo…
John
sorri, me dá uns tapinhas nas costas e diz:
-
Mas é que tu estás muito sobrecarregado,
Davi.
Nesse
momento um misto de tristeza, raiva e frustração emerge em mim. Minha voz
embarga enquanto eu respondo:
-
É isso que as pessoas pensam… que estou
sobrecarregado, então me deixam pra lá… … … Me sinto sozinho…
Caminhamos
mais uns passos em silêncio, de repente estávamos na igreja, a quilômetros de
distância. A parte do culto não existiu no sonho, John e eu já estávamos de
saída. Como é de costume na igreja, nos abraçamos e nos beijamos no rosto. Só
que mais ninguém se abraçava. A multidão se espremia para sair pela porta.
Ignorei o pastor da igreja (por algum motivo) que cumprimentava o povo na
saída.
Quando
finalmente estávamos fora da multidão, vi um amigo que já não via há muito
tempo. Nos abraçamos longamente, conversamos sobre sua filha recém-nascida e
John ficou distante. Percebi que já era noite.
Quando
me dirigi a John ele me disse, sorrindo:
-
Me encontra na frente da loja Morgana.
Ali perto tem um lugar muito legal pra tomarmos um café.
De
repente estávamos no meio do caminho (indo para o centro da cidade), era na
frente da minha casa. Já era dia, como que final de tarde e o céu estava
alaranjado, modificando as cores das casas e da rua.
Eu
estava a pé e John de bicicleta. Corri em direção a ele, que seguiu a um lugar
virando a esquina. Era uma academia nova chamada “Psicopata”. Eu chamava ele
mas ele entrou, não entendia o motivo. Logo após hesitar por um momento eu
entrei. A academia era descendo uma larga escadaria. Fiquei no alto observando,
John já estava explorando os equipamentos disponíveis. Vi que somente o
recepcionista estava lá. Não havia mais ninguém.
O local
vai se transformando em uma loja de roupas.
Indaguei John sobre o lugar que iríamos,
sobre que tipo de café era. Ele explica, enquanto usava um equipamento de
musculação em uma loja de roupas:
-
Vamos comer hot dog, fritas e um
chocolate (quente).
Não entendendo a combinação, perguntei:
-
Mas tem Chopp?
Ele disse:
-
Teeem siiiim… mas vamos gastar entre 50
e 100 reais...
Então
entrei em conflito: Aceitar gastar um dinheiro que eu não tenho, pois preciso
pagar minhas contas, só pra agradar meu amigo ou dizer não. Eu não
queria dizer não.
Enquanto
eu pensava sobre meu conflito tirei a camisa e vi que tinha várias tatuagens
pelo corpo. Todas em blackwork, nas costas e na barriga. Uma no peito, próxima
ao coração. Então, eu pegava nanquim e pintava elas para ficarem mais escuras.
Era como um ritual, ou como se estivesse me preparando para algum evento em que
estaríamos caracterizados. Lembro que as tatuagens tinham a ver comigo, mas não
lembro o que eram...
Então eu abri meus olhos e despertei.