domingo, 9 de setembro de 2018

Amizade e conflito

Por Davi Masi


   Eu vi um sonho assim:

Estava com um folder em mãos, tentando ler. Tinha letras pretas em um papel branco, somente palavras, as quais não conseguia enxergar, como se eu precisasse de óculos com grau mais elevado. Olhei para frente. Vi que estava em um cruzamento na cidade de Rio Grande. O alvorecer da cidade tinha mais vida, movimento, cores e detalhes nas construções. Havia chovido durante a noite.
Estava esperando a oportunidade para atravessar a rua. À minha esquerda estava um amigo da psicologia (neste sonho não se distinguia se éramos psicólogos ou estudantes de psicologia), ao qual darei o nome de John. Ele fez comentários sobre o fato de estarmos tentando atravessar a rua, na sinaleira, mas passavam muitos carros e não respeitavam a vez dos pedestres. Ao olhar para a direita, vi que lá estavam duas colegas também psicólogas, mas eu não lembrava de nada sobre elas além da profissão. Elas cochichavam entre si sobre algo, esperando junto comigo e John para atravessar a rua.
Em todo o tempo que esperávamos não conversávamos, ocupados demais com a angústia de tentar atravessar e os carros não deixarem. Esperamos por muito tempo, não sei precisar quanto. Até que conseguimos atravessar, quando já não passava carro algum.
Seguimos nosso caminho conversando, sem as gurias. John me contava sobre uma das psicólogas:
-   Vou começar a fazer terapia com ela, mas não sei se ela vai dar conta das coisas que eu tenho pra trazer. Por isso ela disse que também vai me contar as coisas dela. Então na verdade é isso, vai ser uma troca…
Ele falava os detalhes dessa proposta de terapia, e eu me indignava por não ver sentido em chamar isso de terapia. Sendo ele meu amigo há muito tempo, não me contive e o interrompi:
-   Tu poderias ter esse tipo de relação comigo, porque eu sou teu amigo…
John sorri, me dá uns tapinhas nas costas e diz:
-   Mas é que tu estás muito sobrecarregado, Davi.
Nesse momento um misto de tristeza, raiva e frustração emerge em mim. Minha voz embarga enquanto eu respondo:
-   É isso que as pessoas pensam… que estou sobrecarregado, então me deixam pra lá… … … Me sinto sozinho…
Caminhamos mais uns passos em silêncio, de repente estávamos na igreja, a quilômetros de distância. A parte do culto não existiu no sonho, John e eu já estávamos de saída. Como é de costume na igreja, nos abraçamos e nos beijamos no rosto. Só que mais ninguém se abraçava. A multidão se espremia para sair pela porta. Ignorei o pastor da igreja (por algum motivo) que cumprimentava o povo na saída.
Quando finalmente estávamos fora da multidão, vi um amigo que já não via há muito tempo. Nos abraçamos longamente, conversamos sobre sua filha recém-nascida e John ficou distante. Percebi que já era noite.
Quando me dirigi a John ele me disse, sorrindo:
-   Me encontra na frente da loja Morgana. Ali perto tem um lugar muito legal pra tomarmos um café.
De repente estávamos no meio do caminho (indo para o centro da cidade), era na frente da minha casa. Já era dia, como que final de tarde e o céu estava alaranjado, modificando as cores das casas e da rua.
Eu estava a pé e John de bicicleta. Corri em direção a ele, que seguiu a um lugar virando a esquina. Era uma academia nova chamada “Psicopata”. Eu chamava ele mas ele entrou, não entendia o motivo. Logo após hesitar por um momento eu entrei. A academia era descendo uma larga escadaria. Fiquei no alto observando, John já estava explorando os equipamentos disponíveis. Vi que somente o recepcionista estava lá. Não havia mais ninguém.
O local vai se transformando em uma loja de roupas.
Indaguei John sobre o lugar que iríamos, sobre que tipo de café era. Ele explica, enquanto usava um equipamento de musculação em uma loja de roupas:
-   Vamos comer hot dog, fritas e um chocolate (quente).
Não entendendo a combinação, perguntei:
-   Mas tem Chopp?
Ele disse:
-   Teeem siiiim… mas vamos gastar entre 50 e 100 reais...
Então entrei em conflito: Aceitar gastar um dinheiro que eu não tenho, pois preciso pagar minhas contas, só pra agradar meu amigo ou dizer não. Eu não queria dizer não.
Enquanto eu pensava sobre meu conflito tirei a camisa e vi que tinha várias tatuagens pelo corpo. Todas em blackwork, nas costas e na barriga. Uma no peito, próxima ao coração. Então, eu pegava nanquim e pintava elas para ficarem mais escuras. Era como um ritual, ou como se estivesse me preparando para algum evento em que estaríamos caracterizados. Lembro que as tatuagens tinham a ver comigo, mas não lembro o que eram...

Então eu abri meus olhos e despertei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário