Por Carolina Peixoto
Eu vi um sonho assim:
Eu vi um sonho assim:
Estávamos em um almoço grande,
com muitos convidados. Eu andava em meio às pessoas procurando conhecidos. Eu
via grupos reunidos conversando, eles gesticulavam muito e as pessoas falavam
quase todas ao mesmo tempo. Havia uma tensão no ar. A reunião era um encontro
da “resistência” ao novo governo recém eleito. Eu andava e podia ver nos
olhares e nas expressões dos rostos o medo, a incerteza e a revolta. Enquanto
me esgueirava contornando os grupos, pensava que talvez estivéssemos revivendo
os sentimentos de 64. Meu coração estava acelerado. Eu procurava o rosto do meu
marido. Quando consegui chegar num espaço um pouco mais amplo, o vi de longe.
Estava próximo de um muro muito alto que separava o jardim da calçada. Assim
que o encontrei com os olhos, dois homens entraram e o pressionaram contra o
muro. Meu alívio se transformou em pânico. Eu sabia o que estava acontecendo.
Ele seria levado. Todos sabiam que os prisioneiros eram levados ao “cadeião” e
depois disso nunca mais os víamos. Fiquei paralisada olhando a cena de longe.
Podia sentir meu peito inflando mas sufocava de medo. Tive o impulso de correr
e gritar, mas a razão me dizia para não fazer. Se o fizesse, seria pega junto.
Provavelmente eu estava sendo procurada também. Dei dois passos para trás devagar,
me misturei aos outros convidados até chegar em um portão lateral. Assim que
saí à rua, corri com toda a energia que pude sem olhar para trás. Corri
esbaforida até chegar ao centro da cidade e entrei em uma loja de roupas
baratas e me escondi num labirinto de araras lotadas. Fiquei ali, soterrada
pelas roupas e pelo calor tentando recuperar o fôlego até que o pânico foi
interrompido pela vibração do celular. Uma mensagem recém chegada dizia:
PROCURE FRANCO. LUIZ LORÉA, 158. Meu rosto se iluminou. Entendi que os companheiros
do almoço estavam me ajudando e senti de novo a esperança que movia o grupo. Havia
chance e eu agora sabia o que fazer. Saí à rua e voltei a correr.
Então eu abri meus olhos e
despertei.
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