segunda-feira, 5 de julho de 2021

Sonho-poema para meu irmão

 

Por Lúcia Pozzobon


Eu vi um sonho assim:


A menina adorava comer flores

as vermelhas as preferidas

mordidas com um sorriso de dentes por hora na cor púrpura

Apreciava formigas

capturadas num pote de vidro

quisera devorá-las  ainda em movimento com a ponta dos dedos à boca

aos montes,

mas presas aos lábios provocaram foi  inchaço e dor

Saboreava folhas grandes verdes vivas

como as da parreira, picadas meticulosamente feito couve 

ao sabê-las comestíveis desprezou o alimento

Estranhamente nos dias mais quentes

no forte do verão

preparava caldo de terra preta 

uma espécie de sopa de feijão

servida - para desespero da avó - ao irmão menor

com saboroso  guisado de minhocas

trituradas em movimento

mas isso ela não comia não 

pensava -  um dia talvez

Triste mesmo foi quando chupou gilete

nada grave, a boca sangrou, apanhou

O pai começou a achar estranho 

esses gostos da filha

A mãe - mais tranquila - pensou ser

artes da menina

No armazém  um dia pediu naftalina

queria provar a bala branca

o vendedor riu mas não vendeu

aí ela bateu pé chorou forte

Estranho foi quando

ninguém se deu conta 

a menina passou a ingerir perfumes

xaropes para tosse sem receita em quantidade

engoliu cápsulas

cheirou esmalte

Até que experimentou veneno de barata 

não morreu nem passou mal

perdeu foi o gosto por sabores estranhos

sem paladar sem curiosidade

E foi aí que decidiu por conta própria que não lhe cabia mais ser chamada, assim, 

MENINA.

 Então eu abri meus olhos e despertei.


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