Por Lúcia Pozzobon
Eu vi um sonho assim:
A menina adorava comer flores
as vermelhas as preferidas
mordidas com um sorriso de dentes por hora na cor púrpura
Apreciava formigas
capturadas num pote de vidro
quisera devorá-las ainda em movimento com a ponta dos dedos à boca
aos montes,
mas presas aos lábios provocaram foi inchaço e dor
Saboreava folhas grandes verdes vivas
como as da parreira, picadas meticulosamente feito couve
ao sabê-las comestíveis desprezou o alimento
Estranhamente nos dias mais quentes
no forte do verão
preparava caldo de terra preta
uma espécie de sopa de feijão
servida - para desespero da avó - ao irmão menor
com saboroso guisado de minhocas
trituradas em movimento
mas isso ela não comia não
pensava - um dia talvez
Triste mesmo foi quando chupou gilete
nada grave, a boca sangrou, apanhou
O pai começou a achar estranho
esses gostos da filha
A mãe - mais tranquila - pensou ser
artes da menina
No armazém um dia pediu naftalina
queria provar a bala branca
o vendedor riu mas não vendeu
aí ela bateu pé chorou forte
Estranho foi quando
ninguém se deu conta
a menina passou a ingerir perfumes
xaropes para tosse sem receita em quantidade
engoliu cápsulas
cheirou esmalte
Até que experimentou veneno de barata
não morreu nem passou mal
perdeu foi o gosto por sabores estranhos
sem paladar sem curiosidade
E foi aí que decidiu por conta própria que não lhe cabia mais ser chamada, assim,
MENINA.
Então eu abri meus olhos e despertei.
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