sexta-feira, 17 de abril de 2020

Contos chineses


Por Rodrigo Fernandes

Eu vi um sonho assim:


 Eu fazia uma visita à China. Lá, uma mulher me contava sobre um espírito que se alimentava do afeto dos outros, que necessitava de carinho e aceitação. Para exemplificar a fome do espírito ela me conta a alegoria de um momento que uma mulher abandona um recém nascido no meio de uma multidão, próximo de outras mulheres. Ele está recoberto por uma roupa azul e não chora. A mulher, por sua vez, não faz contato visual com a criança que suponho ser seu filho e foge da cena enquanto as outras acolhem a criança, que seria este espírito. Consigo olhar para os olhos dela e penso por um instante na impossibilidade do amor ou na impossibilidade da vida. As mulheres que recebem a criança não parecem horrorizadas, mas sim, preocupadas em alentar aquele jovenzinho que mal sabem ser um espírito carente de amor. Penso na devasidão de um ente que se alimenta do abandono infantil. Em seguida pego um ônibus e ele está muito lotado, mas os chineses parecem ter uma profunda habilidade em ocupar pequenos espaços e o motorista parece frear com sensibilidade. Tenho em mente no motivo pelo qual fui visitar a China e como vinha conseguindo me virar com o idioma, conto meus dinheiros e penso que posso ficar por mais tres meses. Passeio pelo centro e a cidade parece ocidentalizada com o que temos de pior, restaurantes ridículos, festas para jovens universitários e universidades privadas. Estou sentado no banco da janela do ônibus e meu telefone vibra com alguma notificação. O homem no meu lado me repreende, baixa a alavanca que separa um banco do outro e relata sentir-se incomodado. Lhe peço desculpas e começamos um diálogo. Ele é brasileiro e me convida para o seu apartamento. Nele me pergunta o que eu penso sobre coach's e se por acaso eu não queria ser um. Respondo que acho charlatanice, que primeiro vendem algo que não são e segundo me chamaria de técnico, não coach. Ele ri, mas fica ofendido e tenta me provar que o que faz é bom. Senta à mesa e ascende um cigarro, enquanto faz uma postagem dizendo que está jogando rugbi. Fala que o mercado do rugbi na china é muito vantajoso. Eu pergunto se ele não sente vergonha de mentir sobre o que faz ao seus seguidores e por que razão fumar um cigarro pareceria menos nobre do que praticar um esporte. Ele nem teve tempo de responder. 


Então eu abri meus olhos e despertei



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