quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Uma mulher em três tempos atravessando a tempestade OU Um sonho para Fabio Dal Molin



Por Lúcia Pozzobon


Eu vi um sonho assim

Em uma praça grande, uma mistura de todas as praças que já vi na vida, ao vivo e em diversas imagens, e em uma cidade que também não me parece conhecida, estou, eu, inicialmente sentada na grama, depois  em um banco, observando tudo o que posso. 

Tenho apenas um livro comigo e uma bolsa.  Carrego no peito uma sensação de desconforto por estar só,mas  aos poucos percebo, com uma certa alegria serena, que esse não é um sentimento de solidão mas, sim, de solitude. 

Observo  que há casais, famílias e, também, pessoas sozinhas nessa praça, o que aumenta ainda mais meu  conforto e minha paz.

Sei que sou eu neste lugar, mas tenho outro corpo e rosto, de alguém totalmente desconhecido, ou, melhor, trago  uma mistura de mulheres de um tipo físico específico: jovens de cabelos escuros,compridos lisos e volumosos, estatura alta, com uma silhueta mais arredondada do que a minha.Sou, aqui, uma estudante universitária.

De repente, tudo muda nesta cena.

Uma espécie de tempestade esta se formando e todas as pessoas vão embora assustadas. Sou agora uma mulher com mais idade, aparentando uns 45 anos, mas ainda tenho cabelos pretos, agora curtos. Sou uma professora universitária ou uma psicanalista. Agora mais baixa e mais magra do que a jovem da cena anterior.


A tempestade de vento, areia e raios, que pintou o céu de chumbo e de clarões, está muito forte, sou uma das últimas a fugir. Fico pensando no que fazer. Corro feito barata tonta e encontro outra mulher perdida, que sai de uma mata fechada, enigmática. É mais velha do que eu e mais perdida ainda, ao que parece. Indica que devo ir ao contrário da multidão.

Não estou segura, não quero segui-la, mas  me arrisco indo atrás dela.

A mulher some e o caos aumenta. Fico só.

Chego até um apartamento muito bom, que é meu, mas que, a princípio, nunca vi. Um rapaz de 20 anos esta lá e, no sonho, é meu filho. 

Nos trancamos no imóvel pois a tempestade transformou a Terra em um lugar perigoso e violento.Entendo que temos que fugir desta catástrofe, juntar nossos pertences básicos, alimentos, dinheiro e partir... 

Batem à porta, é minha filha, que chega junto com uma senhora mais idosa, a governanta da família.Sinto que não é uma pessoa de confiança.

Aceleramos os preparativos finais para a debandada.  Um homem que não conheço, mas que sei ser meu marido, surge do nada, ele está nos ajudando.

Lá fora, a tempestade se apresenta medonha, tudo gira com o vento, tudo  é cor de carvão.

Dentro do apartamento, a governanta parece brava, não sei exatamente o que quer; não estou gostando. Diz que precisa proteger seu filho, que na minha imaginação aparece vestido de macacão. Não aprecio a visão desse rapaz. Peço que a mulher se vá. Ela fica naquele vai não vai.Minha filha protege essa senhora.


Estamos agora todos ao redor de uma mesa imensa, que mostra a família tradicional, rica e unida que representamos.Falta pouco para sairmos rumo ao desconhecido.

Enquanto todos falam ao mesmo tempo,   meu marido está sentado numa ponta da mesa e eu, que agora sou loira acinzentada e tenho cabelos bem curtos,estatura mediana e uns 60 anos, apareço em pé  na outra cabeceira. Aparentemente sou uma empresária de sucesso ou uma cirurgiã famosa, uma mulher a quem todos levam muito em consideração. Sinto que sou a líder do grupo.  

Por fim, minha filha e meu filho conversam distraídos nas laterais da mesa e não percebem quando a velha governanta finge que me abraça antes de ir embora, na verdade golpeando-me traiçoeiramente,  no peito, com um punhal.

Sinto a dor, o espanto, o “vou morrer” e, também, a perplexidade e o pavor dos filhos e do marido diante da cena.

Parece que, ainda em pé, coloco a mão no coração e começo a agonizar.

Então eu abri meus olhos e despertei




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