Por Patrícia Louzada
Eu vi um sonho assim
Num prado sem fim.
A vegetação, rasteira, vai até o horizonte, e acaba numa neblina espessa, sólida, pálida.
Um silêncio natural. Fico ali parada, hipnotizada pela neblina, aquela parede azulada lá no fim de tudo, que encanta e oprime mesmo de longe, só por existir.
Perdida em meus devaneios sinto a rajada do vento, fresco e suave a princípio, passando por mim preguiçosamente.
Move meus cabelos e me causa um arrepio, como se nesse ventar houvesse um presságio que eu desconheço.
O vento, gelado agora, busca desesperadamente algo onde ressoar, pois só percebe-se vivo quando ouve-se alto.
O vento, agora frio e rascante, aumenta sua velocidade em angústia, de forma a soar por entre a mísera relva, mas sem efeito.
Me atinge em cheio nos cabelos e nas roupas, mas sem efeito. Eu me encolho, quase sumo, para evitar suas lufadas.
Desgovernado, o vento alcança a neblina que, como uma presença viva, o absorve em largos goles, sem emitir um som sequer.
Enrolada sobre mim mesma, testemunho a agonia do vento, percebo seu desejo de existir, sua tristeza e sua dúvida, sua forte angústia… é desolador...
Não suportando mais, ergo-me do chão e grito a plenos pulmões, braços abertos e olhos fechados. Deixo que o vento me sacuda, não resisto.
Cúmplice.
Sinto-me erguida no ar para depois ser pousada no chão, suavemente. Faz-se uma brisa suave com cheiro improvável de flor. Cúmplice.
Penso: só o que existe, vive.
Então eu abri meus olhos e desperte
Nenhum comentário:
Postar um comentário