sexta-feira, 19 de março de 2021

Vida e morte sob o céu magistral das Plêiades

                                                        

Por André Luis Corrêa da Silva




Eu vi um sonho assim, um homem branco de vestes claras, cabelos curtos e ralos, barba e bigode de poucos centímetros dando mais a impressão de escolha do que desleixo, ele apareceu do nada e me perguntou se eu queria ver coisas que sempre tinha imaginado existir, mas que jamais nem no mais delirante sonho poderia realizar, me convenceu a embarcar em uma viajem que eu não conseguia saber como se daria, ir para o espaço e visitar um mundo distante. Em seguida me vi em um dispositivo passando por túneis dimensionais, eu fiquei espantado com cores que eu nem sabia que existiam e a uma velocidade impressionante, eram cores e imagens tão intensamente percebidas que embora não sentisse calor nem frio podia ver fragmentos de luzes que me pareciam ser estrelas, nebulosas vistas em um prisma. O dispositivo parecia feito de um material transparente porque tudo o que ocorria no exterior era visto, mas não era sentido no seu interior. Viajávamos a uma velocidade indescritível e para minha surpresa paramos instantaneamente, sem que nenhuma lei conhecida da física fizesse sentido. Ficamos voltados para um conjunto de estrelas brilhantes das quais se destacavam sem dúvida o Cinturão de Órion. Ele parou, enquanto, tínhamos essa visão clara e deslumbrante de Órion e disse: “parei aqui porque sei que tu gostas de olhar para Órion as noites, linda, não? Mas não é o que quero te mostrar!”, a seguir voltamos a viajar em outro túnel super colorido, de imagens hipnóticas! Ele disse que o destino final da viajem estava nas Plêiades, apontando ainda quando era possível discernir cores e imagens, uma miríade confusa de luzes, estrelas em profusão e nuvens ocres como gases primordiais espalhavam-se a distância. Paramos tão repentinamente como da primeira vez, agora pairando sobre um planeta parecido com a Terra, uma Terra 1,5 ou 2,0 e um sol maior e azulado. Eu estava tão ansioso pela viagem que procurava sempre guardar o máximo de informações possíveis do que via, uma das primeiras coisas que me chamaram a atenção foi o fato de que esse planeta tinha menos mares que o nosso e que a terra era na grande maioria cor de areia, imaginei muitos desertos, também percebi poucas nuvens na atmosfera que possibilitavam ver mais claramente a superfície.

Pairamos algum tempo sobre o planeta e ficou claro pelas falas de meu ilustre condutor que era um planeta moribundo. Logo após em grande velocidade entramos na atmosfera e desembarcamos tranquilamente na superfície enquanto ele ficava explicando que o planeta estava de fato colapsando e me mostrou alguns seres que ainda sobreviviam lá. O local visitado guardava semelhanças com alguns encontrados na Terra, tinha um lago de considerável tamanho no meio do que parecia um deserto, como se fosse um oásis da Terra, nas margens haviam prédios feitos com um metal que não reluzia, era ocre e dali saia de vez em quando algumas naves que pairavam no ar e desapareciam em velocidade para diversas direções. Eu fiquei olhando ainda com a preocupação de reter na memória o máximo de coisas que pudesse, pois pensava que era uma experiência indescritível conhecer outro mundo e queria lembrar tudo. Inquieto e cheio de dúvidas, tudo o que eu pensava em perguntar era respondido antes por aquele que me havia convidado. Senti que era capaz de ler meus pensamentos e considerei que eram tão óbvios que não provocavam surpresa neles, às vezes, as respostas me faziam sentir como se me visse como portador de certa ingenuidade.

Um exemplo claro disso foi quando eu olhei para a outra margem do lago e percebi que havia tipos de moradias e seres que as habitavam e viviam de forma muito diferente daqueles que habitavam os grandes prédios de metal desconhecido, ainda assim também não sei qual o material que utilizavam para suas residências, exceto que tinham a mesma cor dos prédios, não era nada parecido com o que temos na Terra, talvez em termos de mera e insuficiente comparação pudesse citar o ferro oxidado, mas não era o caso. Nessas residências havia habitantes, humanóides, tipos diferentes de nós, menores, pele num tom amendoado ou acinzentado, olhos graúdos e expressivos, olhos que faziam com que eu ficasse levemente tentado a olhá-los fixamente. Produziam um efeito de admiração e confiança. Tamanha me parecia às diferenças entre as duas margens do lago que eu pensei na hora nas desigualdades sociais que vemos na Terra e que sempre acreditava que um planeta intelectualizado tinha eliminado isso, mas nem perguntei e ele olhou para mim e respondeu: “porque tu achas que outros planetas seriam diferentes do teu! Eles estão morrendo, mas nem percebem, os poderosos daqui só conseguiram comprar o direito de serem os últimos a sair e com muito sofrimento”. Nesse momento andava entre pequenas dunas que separavam os dois mundos, eu seguia atrás e tive tempo de vê-lo olhar para trás enquanto me respondia uma pergunta apenas pensada.

Eu fiquei um tempo enorme olhando tudo e coletando informações, mas ele me disse que aquilo já não importava mais e me levou até a beira de uma praia enquanto era acompanhado por alguns outros seres daquela espécie. Fomos até a beira mar de uma praia diferente, incrível, o mar era muito agitado, as ondas quebravam distantes, os vagalhões chegavam até a beira mansamente, não tinha areia alva como as mais lindas da Terra, era como se fossem pedregulhos na praia, como se fossem os seixos de um rio. Olhei para o horizonte e vi que ali se erguiam enormes estruturas, gigantescos e estreitos monólitos, como paliçadas espetando o mar cuja água não me parecia em nada diferente com a vista em nossos mares. A visão era tão exuberante, tão majestosa que eu fiquei pensando se eram naturais ou construídas por aquela civilização da qual restava pouco, senão ilhas de prosperidade pontuadas por crueldades e injustiças não sanadas, apesar de todo aquele avanço. Enquanto conversavam formando um meio círculo a alguns passos de mim, eu insistia em tentar entender a natureza daquelas monumentais e retilíneas montanhas que se erigiam do mar, constatei por fim que devem ter sido erguidas para conter o mar e produzir um tipo de contenção. Fosse para isso o objetivo ali foi atingido, pois as ondas que chegavam até a praia eram pequenas e controladas se comparado com a força com que colidiam com as construções visíveis e invisíveis à frente. Era quase irresistível olhar para aquela cena, pouco acima do horizonte um sol azulado, aparentando um pouco maior que o nosso brilhava, mas a noite não era intensa porque tinha outra estrela que não tão distante provocando um efeito de lua cheia. Atravessando toda a abóboda celeste eu pude ver o que parecia uma estrada de estrelas e um colorido enorme. Definitivamente o céu noturno era muito mais bonito que o da Terra. Era possível ver o céu profundo, nuvens de gases e uma intensidade vívida nas estrelas, uma profusão gigantesca delas, miríades e miríades de estrelas.

Que belo entardecer, anoitecer naquele planeta não tinha uma noite tão profunda, como as nossas noites sem lua.

Demorei admirando esse espetáculo, mas discretamente os seres reunidos em torno daquele que havia me convidado chamavam minha atenção. Entendi que havia excedido para eles toda aquela beleza não chamava tanto a atenção frente à importância que davam para o que estava sendo tratado. Percebi que era sério, houve silêncio quando me aproximei, muitas coisas foram ditas pelo senhor de vestes claras enquanto os outros apenas ouviam e concordavam em silêncio. Depois de tantas coisas ditas sobre aquele mundo e aqueles seres ele me disse que o motivo de eu estar ali também não era esse e sim me apresentar um ser, nisso uma pequena fêmea daquela espécie saiu do meio dos demais. Eu a cumprimentei da forma como fazemos na Terra, estendi a mão e ela estendeu a dela, senti a pele diferente, mais áspera, mais firme. Os olhos enormes e hipnóticos transmitiam sinceridade e em torno dos olhos havia o que parecia tatuagens geométricas, como triângulos isósceles numa cor que me lembrava o azul metálico e que contrastava com a pele. Ele lhe apresentou pelo nome e me disse que precisa de mim para uma tarefa muito importante, enquanto vários desses seres contemplavam e esperavam pela minha reação. Ele disse precisava que eu recebesse ela na Terra e a ajudasse, porque ela era muito importante e estava ali para ajudar aquele planeta, mas não havia mais nada a fazer e que a Terra ainda tinha tempo e muitos como ela estavam sendo enviados. Na hora pensei em uma imigração em massa e que os habitantes da Terra não veriam com bons olhos, mas não senti nada além de vontade de ajudar, na verdade, senti que era ela quem vinha para ajudar e me dispus a ajudá-la. Lembro de ter ficado lá ainda conversando e trocando idéias, perguntando coisas sobre eles, sobre o mundo deles, mas dessa parte lembro vagamente. Mas a impressão que tinha era de tratar-se de algum tipo de referência, alguma liderança em alguma área, era pequena, mas apesar disso transmitia muita autoridade, não saberia dizer se era uma liderança política, uma militante de uma luta travada naquele mundo distante ou ligada à ciência. Naquele momento não sentia como se estivesse dormindo, mas sim em transe, então eu abri meus olhos e despertei. www.morphonautas.blogspot.com







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