Por Boladão
O homem é uma geografia
Na infância eu vi o asfalto
Nu e cru
Poeira que sobre
Chuva que molha
Carros que passam incessantemente
Caos e sangue
Mas sempre sonhei com o mar
Sonhei com os biomas da minha terra
Com as terras de minas gerais
Árvores retorcidas, estradas de reis e escravos
Igrejas barrocas e persongens heréges
Porém ainda sonho com o mar
Nascer é traumático
O mar é belo, mas tem seus mistérios
O mar é belo para quem sabe navegar
Navegar não é preciso, é preciso sonhar
Eu caminhei pela estrada real
Fui de Ouro Preto a Paraty
Pisei nas ruas tortuosas de pedra sabão
E me banhei no oceano atlântico
Eu e minha mãe
Caminhamos juntos sempre
Mesmo estando separados
Cada movimento de minha mãe
Eu segui
Já fui professor e já fui bebâdo
Já fui bibliotecário e assaltante
Ainda me lembro da biblioteca fascinante
Onde mamãe trabalhava
Onde as estantes entortaram
Pelo peso da cultura
Eu li o velho e o mar de Hemingway
Fomos para o litoral minha mãe e eu
Bebemos juntos
Compartilhamos a falta que há em cada ser humano
Em copos de cerveja, com riso e choro
Mãe eu sempre percorri teus passos
Por mais que eu tentasse me afastar de ti
Me espantei pela teu fúria
E fui feroz
Me espantei com teu brilhantismo
E tentei ser brilhante
Hoje olho para os teus olhos
Cor de mel, alegres mesmo diante de tanta dor
Mamãe e eu entendemos bastante do real
Entendemos bastante do absurdo
E compreendemos que o tempo é um relógio de Dali
Mãe tu decolou, voou para longe
Banhou-se nos mares da Bahia
Mãe tu é o meu espelho
Uma vez percebi em ti a figura do demônio
Que cada um carrega dentro de si
Hoje vi a heroína
Atena
Eu vi a mulher que se reinventa
O feminino é o que mais se aproxima do mar
Que mais se aproxima de DEUS
Mamãe eu sempre fui ulisses as avessas
Cansei de Ítaca e quero desbravar todos os oceanos
Então abri os olhos e despertei.
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