sábado, 27 de março de 2021

O homem é uma geografia

                                                                   Por Boladão


                           
Eu vi um sonho assim

O homem é uma geografia

Na infância eu vi o asfalto

Nu e cru

Poeira que sobre

Chuva que molha

Carros que passam incessantemente

Caos e sangue

Mas sempre sonhei com o mar

Sonhei com  os biomas da minha terra

Com as terras de minas gerais

Árvores retorcidas, estradas de reis e escravos

Igrejas barrocas e persongens heréges

Porém ainda sonho com o mar

Nascer é traumático

O mar é belo, mas tem seus mistérios

O mar é belo para quem sabe navegar

Navegar não é preciso, é preciso sonhar

Eu caminhei pela estrada real

Fui de Ouro Preto a Paraty

Pisei nas ruas tortuosas de pedra sabão

E me banhei no oceano atlântico

Eu e minha mãe

Caminhamos juntos sempre

Mesmo estando separados

Cada movimento de minha mãe

Eu segui

Já fui professor e já fui bebâdo

Já fui bibliotecário e assaltante

Ainda me lembro da biblioteca fascinante

Onde mamãe trabalhava

Onde as estantes entortaram

Pelo peso da cultura

Eu li o velho e o mar de Hemingway

Fomos para o litoral minha mãe e eu

Bebemos juntos

Compartilhamos a falta que há em cada ser humano

Em copos de cerveja, com riso e choro

Mãe eu sempre percorri teus passos

Por mais que eu tentasse me afastar de ti

Me espantei pela teu fúria

E fui feroz

Me espantei com teu brilhantismo

E tentei ser brilhante

Hoje olho para os teus olhos

Cor de mel, alegres mesmo diante de tanta dor

Mamãe e eu entendemos bastante do real

Entendemos bastante do absurdo

E compreendemos que o tempo é um relógio de Dali

Mãe tu decolou, voou para longe

Banhou-se nos mares da Bahia

Mãe tu é o meu espelho

Uma vez percebi em ti a figura do demônio

Que cada um carrega dentro de si

Hoje vi a heroína

Atena

Eu vi a mulher que se reinventa

O feminino é o que mais se aproxima do mar

Que mais se aproxima de DEUS

Mamãe eu sempre fui ulisses as avessas

Cansei de Ítaca e quero desbravar todos os oceanos

Então abri os olhos e despertei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário