sexta-feira, 6 de agosto de 2021

O pano amarelo açafrão

 

                  Por Milena Morvillo

Eu vi um sonho assim...

Eu era uma mulher indiana. Uma artista ou uma vendedora de rua. Estava sentada no chão, vendendo minha obra exposta na calçada sobre um longo caminho de tecido estendido no chão a minha frente: eram peças de todos os tipos e cores. Vi atravessarem pela rua um pouco mais ao longe, um casal onde a mulher ia na frente e o homem atrás, vestidos bem ao estilo indiano. Ele olhou diretamente para mim e fez um aceno discreto com a cabeça, que entendi como reconhecimento, respeito e carinho. Também entendi que ele seguia aquela mulher e que estava preso a ela. Então ela passou perto das minhas coisas à venda, pegou um grande rolo de tecido amarelo e foi desenrolando-o atrás de si, em um gesto de desprezo pela condição da mulher sentada na rua que era eu (acho que eu era de uma casta inferior, talvez). O pano ficou solto esvoaçando ao vento. Um grande tecido amarelo cor de açafrão, muito vivo. Nesse instante, meu filho – que é o meu filho mesmo de hoje em dia – saiu correndo detrás de mim para recuperar o tecido amarelo que esvoaçava no vento e o trouxe de volta. Vi minhas mãos que estavam desenhadas de henna castanho dourada.

Então eu abri os olhos e acordei.

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