Por Davi Masi
Eu vi um sonho assim:
Era o dia
do aniversário de minha esposa. Mas eu não estava em casa. Aliás,
estava a muitos quilômetros de distância.
Sonhei com o Homem-Aranha... Na verdade
eram dois. Um era o vilão. E este tentávamos matar – eu e o
Homem-Aranha do bem. Estávamos em um local aberto. Era dia, mas o
céu era branco e sem profundidade ou foco, parecendo totalmente
coberto por uma nuvem estranha.
Repentinamente o Homem-Aranha do bem
não existia mais e eu matava o Homem-Aranha que restou. Eu usava uma
adaga. Mas ele lançou teias que não deixavam eu cravar a adaga no
seu peito... Nesse momento a adaga passou a se movimentar
magicamente, de modo que ela penetrava sua carne causando muita
dor... Lembro de encostar a mão na roupa dele e sentir a textura do
tecido. Era liso e frio como seda.
Então, cravei a adaga no seu coração
e ao lado do abdômen.
- Aaaargh! – Ele agonizava,
inclinando a cabeça para trás. Não vi sua morte, apenas o
sofrimento.
Logo o cenário mudou.
De repente eu estava na casa dos meus
pais, no meu antigo quarto que dividia com meu irmão. Eram as mesmas
cores daquela época, a casa era igual. O quarto era azul celeste,
mas estranhamente pálido e envelhecido.
Eu estava sentado na cama com meu filho
nos braços e a adaga na mão. No sonho eu tinha uma certeza de que
deveria matar ele por algum motivo que eu não sabia.
Consegui então ser frio o suficiente
para fazer isso. Eu não chorava nesse primeiro momento, pois no
sonho aquilo tinha uma razão, eu sabia ser necessário. Porém, a
dor dele estava ligada à minha. Toda a dor que eu causava eu sentia
juntamente com ele.
Segurando meu filho tomei a adaga com a
mão direita, golpeei o peito dele e ele gritou. A dor da lâmina
entrando por suas costelas se somou à tristeza no olhar e ao clima
inexplicável que tomou o ambiente... Ele não morreu e não saiu
sangue com esse primeiro golpe. Depois eu cravei a adaga mais uma
vez, só que em um local mais abaixo nas costelas, mas ele só
agonizava em dor e não morria...
Então cravei diretamente no coração,
mas mesmo assim ele não morria... Porém, parou de sofrer tanto e
gemia bem baixinho... Ele ficou bem quietinho, como se estivesse
quase dormindo. Me remetendo às tantas vezes que o fiz dormir quando
bebê, ou quando conseguia de alguma forma aliviar alguma dor que
estivesse sofrendo. Foi esse o olhar, de alívio, com os olhos quase
fechando. E eu, com lágrimas nos olhos e a tristeza mais profunda
que um homem poderia sentir...
Então eu abri meus olhos e despertei.
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