sábado, 11 de agosto de 2018

Adaga


Por Davi Masi

Eu vi um sonho assim:

Era o dia do aniversário de minha esposa. Mas eu não estava em casa. Aliás, estava a muitos quilômetros de distância.

Sonhei com o Homem-Aranha... Na verdade eram dois. Um era o vilão. E este tentávamos matar – eu e o Homem-Aranha do bem. Estávamos em um local aberto. Era dia, mas o céu era branco e sem profundidade ou foco, parecendo totalmente coberto por uma nuvem estranha.
Repentinamente o Homem-Aranha do bem não existia mais e eu matava o Homem-Aranha que restou. Eu usava uma adaga. Mas ele lançou teias que não deixavam eu cravar a adaga no seu peito... Nesse momento a adaga passou a se movimentar magicamente, de modo que ela penetrava sua carne causando muita dor... Lembro de encostar a mão na roupa dele e sentir a textura do tecido. Era liso e frio como seda.
Então, cravei a adaga no seu coração e ao lado do abdômen.
- Aaaargh! – Ele agonizava, inclinando a cabeça para trás. Não vi sua morte, apenas o sofrimento.
Logo o cenário mudou.
De repente eu estava na casa dos meus pais, no meu antigo quarto que dividia com meu irmão. Eram as mesmas cores daquela época, a casa era igual. O quarto era azul celeste, mas estranhamente pálido e envelhecido.
Eu estava sentado na cama com meu filho nos braços e a adaga na mão. No sonho eu tinha uma certeza de que deveria matar ele por algum motivo que eu não sabia.
Consegui então ser frio o suficiente para fazer isso. Eu não chorava nesse primeiro momento, pois no sonho aquilo tinha uma razão, eu sabia ser necessário. Porém, a dor dele estava ligada à minha. Toda a dor que eu causava eu sentia juntamente com ele.
Segurando meu filho tomei a adaga com a mão direita, golpeei o peito dele e ele gritou. A dor da lâmina entrando por suas costelas se somou à tristeza no olhar e ao clima inexplicável que tomou o ambiente... Ele não morreu e não saiu sangue com esse primeiro golpe. Depois eu cravei a adaga mais uma vez, só que em um local mais abaixo nas costelas, mas ele só agonizava em dor e não morria...
Então cravei diretamente no coração, mas mesmo assim ele não morria... Porém, parou de sofrer tanto e gemia bem baixinho... Ele ficou bem quietinho, como se estivesse quase dormindo. Me remetendo às tantas vezes que o fiz dormir quando bebê, ou quando conseguia de alguma forma aliviar alguma dor que estivesse sofrendo. Foi esse o olhar, de alívio, com os olhos quase fechando. E eu, com lágrimas nos olhos e a tristeza mais profunda que um homem poderia sentir...

Então eu abri meus olhos e despertei.


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