sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Tanatomorfose

Por Fábio Dal Molin

Eu vi um sonho assim

  Estou morto, e isso parece absurdo. Eu circulo em meio a pessoas, meu corpo alça vôo, dou piruetas no ar e vou parar no alto de um arranha-céu. Começo a chorar compulsivamente pensando na ideia de minha morte, e vislumbro minha mãe chorando.
Sinto a tristeza de minha própria morte como se estivesse mergulhado em um imenso rio de ressentimento  e meu corpo sobrevoa as encostas de uma serra íngreme e vertiginosa, e então mergulho nas águas barrentas do rio, onde tudo é silencioso, frio marrom e turbulento, o barulho da água é insuportável e não consigo nadar, eu grito e minha voz  sai afogada.
  Eu subo à superfície e submerjo enquanto  engulo grandes quantidades de água, meu corpo se dissolve em bolhas, plantas aquáticas e criaturas apavorantes que surgem no meu pensamento.
Eu sou todo medo.
  No instante seguinte estou voando e nas curvas do rio vislumbro cobras  se retorcendo na lama e milhares de aranhas entram no meu cabelo  e na minha boca. Saio voando em espiral descontrolada no meio das árvores  e me debatendo nos galhos. Estou sonhando, agora sei, quero acordar QUERO ACORDAR.
  Em seguida chego  a um velório, onde novamente vejo minha mãe aos prantos e eu novamente estou chorando pois penso que sou eu o cadáver no caixão, mas tudo de repente vira uma festa e meu corpo dispara como um foguete em direção ao espaço.
Eu mergulho no sol onde é tudo frio e vácuo.

   Então eu abri meus olhos e despertei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário