Por Jesline Cantos
Eu vi um sonho assim:
Eu estou
inquieta com a tatuagem inacabada no meu corpo, o incômodo levava a uma pressão
na tatuadora para acabar o trabalho, aquele Leão nas costas tinha falta de uma
parte do rosto e de alguma cor. De repente, a tatuadora começa a tatuar, mas
agora no meu rosto. Não há dor, mas há náusea, ela pincela minha face como se
estivesse criando um quadro, daquela primeira sensação, vou à confusão e à invasão.
Por que uma
tatuagem no rosto? Eu sou essa que a pedi antes? Por que me desrespeita essa
ação? A imagem congela. É como se eu fosse a tela de um cinema, mais
especificamente o meu rosto, e atrás desse crânio tem uma imagem. Dessa imagem estática
surge uma cena. Uma família está rodeada de Leões, eu não sou mais agente da
ação, contudo estou presente enquanto alguém que vê, mas que faz isso sem um
corpo e que ouve: essa imagem é um arquétipo.
Aquelas
pessoas começavam a tentar uma defesa, meu choque é quase indiferente, percebo
que não posso fazer nada, pois eu sou o próprio ambiente, ainda assim, tento
medir a real possibilidade daquelas pessoas. Na defesa, eles conseguem derrotar
seis leões, mas aquele único, o sétimo e último derrota todos eles e estraçalha
aquela família inteira.
Apenas
vejo, mas não sei mais onde estou, o sangue é escondido para mim, só sei que
alguém perdeu, toda a família. Algo no meu íntimo entende que aquela cena toda
diz imageticamente algo sobre a vaidade. O que? Talvez eu precise de tempo do
relógio para atravessar a ponte dessa compreensão. E logo eu começo a cair, mais
e mais até que, outro lugar se faz diante de mim. Um concurso.
Por que eu
participo de uma competição quando sei que elas só servem para deslegitimar o
lugar do outro e o meu dentro da nossa relação? Contudo, eu não sei de nada,
aquela ação é maior do que eu. É um concurso de movimentos no trapézio, é a
minha vez. Mas eu não me lembro de movimento nenhum. Todos os presentes me
olham e esperam - e eu odeio competições.
Começo um
movimento, contudo, não sei mais como desenvolver aquilo. Eu pergunto para os
concorrentes como se faz aquele movimento, o diálogo acontece, mas nada de meu
corpo responder. Onde que eu faço meu corpo entender que o raciocínio de cabeça
para baixo não serve para nada? Por que a mente quer me convencer de algo? E
por que ela segue? Por quê? Por quê? Volto a tentar agir. Contudo, a ação está
emperrada.
Lembro-me de uma carta de ódio que recebi a
qual rasguei e pus fogo em toda ela. Agora tenho alguma compreensão que as
cinzas dessa carta queimam a minha vida. Já não estou mais lá, tento abraçar
uma pessoa querida e ela me diz que não pode me abraçar agora, eu a puxo e
enquanto tento abraça-la com afeto ela está ocupada olhando para o lado. Ela
olha para uma pessoa que tem a cabeça costurada. Os médicos conversam:
- Você viu que da última vez quem
costurou fez errado e agora tem uma cicatriz?
Eu quero
abraçá-la, não me importo com a cabeça que é costurada, ela, no entanto, só se
importa com isso, tanto que não me olha em nenhum momento. Ela sai e diz que
não pode me dar o abraço naquele momento e que podemos fazer isso outra hora.
Então eu
abri meus olhos e despertei.
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