sexta-feira, 10 de agosto de 2018

De partida


Por Jéssica Cantos

Eu vi um sonho assim:
            
   Era uma noite fria de inverno, eu devia ter uns oito anos de idade na ocasião. Estávamos eu e meu pai caminhando apressados e ofegantes pela rua de um lugar que não consigo definir, diferente de todos os lugares onde já estive. Era um ambiente sombrio, não havia nenhuma pessoa na rua além de nós dois. Além da iluminação da rua ser pouca, havia um nevoeiro que não permitia enxergar muitas coisas. Percebo que cada um de nós carregava na mão uma pequena mala.
   Começo a questioná-lo para onde estávamos indo, onde estava a mãe, porque ela não estava indo com a gente. Ele foge das minhas perguntas, parece não querer responder, fala poucas coisas. Em um instante apenas diz que quando chegássemos lá eu compreenderia e que devia continuar sendo uma menina forte.
  Um medo muito grande me invade por inteira, as lágrimas começam a inundar meu rosto, enxugo rápido para que ele não perceba. Nós seguimos caminhando apressadamente e de mãos dadas. Começo a pensar que se estamos com malas poderia ser uma viagem, imagino que uma viagem não pode ser tão ruim assim, e que não teria motivo para sentir esse medo todo. Além do mais, era o pai que estava comigo, ele não me levaria para um lugar que não fosse bom, não é mesmo?! Não sentia muita certeza do que refletia. Ainda pairava no ar um mistério e certo tom de tristeza.
   Seguindo a caminhada que parece infinita, já com dor nas pernas finalmente chegamos numa estação de trem. Era uma linda estação de trem daquelas de filme antigo, mas parecia bem mal assombrada porque estava completamente vazia. Ficamos ali por um breve instante até a chegada de um trem. 
   O trem chega, para na estação e quando abre a porta vejo a figura de minha mãe já dentro do trem com uma mala ao seu lado no chão. Nós nos olhamos e sorrimos, senti um pouco de alegria por breves segundos, até que o pai me olha nos olhos, me beija na testa e se despede dizendo que essa viagem é só para eles, que ainda sou muito jovem para fazê-la. Ele sobe no trem que parte rapidamente, não tenho tempo de dizer mais nada e o trem some num enorme clarão que parece conduzir para outra dimensão. Sento-me sobre a mala que carregava e choro desesperadamente me perguntando o que faria a partir de então...

   Então eu abri meus olhos e despertei.

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